sábado, 16 de abril de 2011

Alvo errado mais uma vez - Veja 11.04.2011

O alvo errado, mais uma vez

Gabriela Carreli

A culpa pelas mortes não é das armas, mas do atirador

Diante de uma tragédia como a que ocorreu no Rio de Janeiro, é natural que se tente imaginar inúmeras maneiras de evitar que uma brutalidade possa repetir-se. Passado o choque inicial, contudo, a racionalidade deve prevalecer. O governo entrou no debate de forma atabalhoada, tentando pôr a culpa pelo massacre nas armas — e não no atirador que puxou o gatilho. E, pelo jeito, deve seguir nessa trilha. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciou que sua prioridade será organizar uma nova campanha de desarmamento no Brasil.

E um discurso fácil para um momento difícil, e que presta um desserviço ao turvar o foco da discussão. Numa campanha dessas, quem entrega suas armas são pessoas honestas, donas de pistolas ou espingardas fora de uso, herdadas de antepassados, ou cidadãos com habilitação legal para exercer o seu direito de acreditar que o porte de um revólver pode proteger sua família — e que, constrangidos por uma ocorrência como a de Realengo, cedem à pressão social.

DESARMAMENTO? Quem entrega armas ao govenio é gente honesta.
Os bandidos, não

Os bandidos, infelizmente, não costumam cooperar com esse tipo de campanha. As pistolas usadas por Wellington Menezes de Oliveira em Realengo eram ilegais. Uma havia sido roubada, outra tinha a numeração raspada.Como elas, o Instituto Viva Rio estima que haja mais 7.5 milhões de armas clandestinas em circulação no mercado negro brasileiro. Não é uma campanha de desarmamento que vai tirar essas armas das ruas. Quem mais alimenta o arsenal dos bandidos são policiais corruptos e contrabandistas que se valem da porosidade das fronteiras brasileiras.

Países em que armas de fogo são proibidas também foram palco de ataques em escolas. O Japão, por exemplo: no dia 8 de junho de 2001, na cidade de Osaka, Mamoru Takuma, então com 37 anos, invadiu um colégio e matou oito crianças usando uma faca de cozinha. Nenhuma autoridade japonesa pensou em proibir facas de cozinha. Qual é a diferença entre Takuma e Wellington? Atribuir o massacre de Realengo às armas de fogo é tão razoável quanto atribuir as mortes em acidentes de trânsito à existência de automóveis.

 

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