quinta-feira, 30 de junho de 2011

MP da Copa – Está criado o “Regime Diferenciado de Imoralidade Pública” - Veja.com

O presidente do conselho político do PSDB, José Serra, escreveu no Globo de hoje um artigo em que, acho eu, aborda outros aspectos da incrível MP da Copa, até agora inexplorados pela imprensa. Não é só a transparência dos gastos que está sob risco. O governo poderá fazer escolhas absolutamente arbitrárias: como não se terá uma referência que sirva de parâmetro, qualquer escolha se justifica. Leia trechos (os entretítulos são meus):
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A imprensa, a oposição e os meios jurídicos têm enfatizado o caráter perverso da tentativa do governo de estabelecer o sigilo dos preços máximos de obras que balizam a apresentação de propostas nas concorrências públicas. O Planalto se defende dizendo que esse sigilo criaria mais incerteza para as empresas concorrentes, dificultando eventuais conluios entre elas. Assegura-se, ainda, que os referidos preços seriam registrados pelos órgãos de controle -  presumo que sejam os tribunais de contas.

VAZAMENTO SELETIVO
Sinceramente, não consigo compreender por que essa medida produziria ganhos significativos para o governo, mas posso, sim, entender o valor que teria um vazamento seletivo de informações para o setor privado, a manipulação a que isso se presta e o incentivo que representaria para a corrupção no governo. Do mesmo modo, não será difícil prever a sombra de suspeições que tornaria ainda menos transparente do que já é todo o processo de licitações de obras nas três esferas de governo no Brasil.
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AUSÊNCIA DE PROJETO EXECUTIVO
Outra mudança, alarmante, enfraquecerá ao infinito a possibilidade de fiscalização de obras, o controle da sua qualidade e dos seus custos.  Isto porque o novo regime de concorrência elimina a necessidade da apresentação de projetos básicos para as obras licitadas e, evidentemente, de projetos executivos.

ESCOLHAS ARBITRÁRIAS E SEM PARÂMETROS
Mais ainda, acreditem: cada uma das empresas concorrentes pode apresentar o seu projeto, propor as suas soluções - um estádio quadrado, trapezoidal, espiralado, elíptico, oval, aéreo, subterrâneo -,  que envolverão custos diferentes. E o poder público poderá escolher aquele de que mais gostar, mesmo que o preço seja mais elevado.  Corresponde à liberdade que você teria, leitor, se estivesse construindo uma casa, com uma ligeira diferença: você  estaria fazendo isso com o seu próprio dinheiro, não com o dinheiro dos contribuintes; você, sim, é livre para satisfazer o seu próprio interesse; o governo tem de atender ao interesse público.

(…)
TSUNAMI JURÍDICO
Creio que, apesar das críticas enfáticas de muitos, a abrangência do desastre institucional da medida provisória do governo federal está sendo subestimado. Esse verdadeiro tsunami jurídico nos levaria ao padrão das antigas republiquetas da América Central e Caribe, governos à moda Somoza ou Trujillo. Ou será que se imagina que o regime brasileiro poderá seguir o modelo chinês, onde, supostamente, o Estado é o patrão de tudo e faz uma hidrelétrica como os leitores fazem suas casas? Não custa notar: vigora lá uma ditadura. Felizmente, esse mal, ainda não temos aqui.

Por Reinaldo Azevedo

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