A cada hora 10 novos veículos passam a circular pelas ruas do Recife. Só no mês de julho, 5 mil carros, motos e caminhões passaram a integrar a frota da capital. Os números são do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e traçam uma radiografia nada animadora da evolução veicular. Ontem, o polêmico projeto de lei do vereador Maré Malta (PPS), que pretende alterar para até as 7h o início das aulas nas escolas públicas e privadas e fixar para as 9h o início do expediente do funcionalismo público, foi apresentado em audiência na Câmara de Vereadores do Recife. O projeto, já aprovado na primeira votação na Casa de José Mariano, em 1º de agosto, precisa de números atualizados. Entre os especialistas, a proposta precisa passar por avaliações técnicas e simulações práticas. Nas ruas, a medida divide opiniões. O assunto foi tratado com exclusividade pelo Diario em 3 de agosto.
Segundo o vereador, caso seja aprovado, o projeto poderá evitar a circulação de 300 mil veículos. A previsão do parlamentar é que, em 90 dias, a proposta seja submetida à segunda votação da casa, último passo até ser sancionada ou vetada pelo prefeito João da Costa. Até lá, ainda será avaliada pela Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Instituto Pelópidas Silveira e Grande Recife Consórcio de Transportes. Os estudos vão apontar o padrão de mobilidade do grupo social alvo do projeto. O deslocamento de pico também poderá ser aplicado dentro dos próprios órgãos públicos localizados no Recife. “Metade do efetivo poderia chegar às 7h30 e a outra parte às 9h30. Uma medida emergencial”, disse Maré Malta, autor do projeto.
Na década de 1970, um reescalonamento de horários chegou a ser cogitado no Recife, mas não foi implantado. Pernambuco tem, hoje, uma frota de 1,9 milhão de veículos licenciados. Na RMR são 988 mil e no Recife 553 mil.
“Os dados são preocupantes. O projeto é louvável. Porém, uma medida desta natureza, que afeta a vida das pessoas, precisa ser mais estudada”, disse o engenheiro Maurício Pina, professor da UFPE. Para não correr o risco de funcionar na teoria mas travar na prática, uma análise com a ajuda de computadores ajudará a repercutir, em números, os volumes de tráfego. Segundo a presidente da CTTU, Maria de Pompéia, a ideia poderá afetar até as relações entre pais e filhos. “É necessário discutir o projeto até no âmbito da família. A princípio, a ideia é boa. Mas, em muitos casos, os pais só têm aquele momento de levar os filhos à escola para conversar com eles”, falou. De acordo com o diretor de fiscalização do Detran, Sérgio Lins, as dificuldades de circulação na capital estão relacionadas à evolução da frota. “Isso é fruto da ampliação do poder de compra das pessoas. O projeto do vereador precisa ser bem simulado antes de ser posto em prática”, revelou.
O presidente do Instituto Pelópidas Silveira, Milton Botler, falou sobre a importância dos estudos.“São necessários em quase todas as alternativas propostas. Sou simpático à ideia dos horários. O transporte público só terá qualidade quando todas as classes forem usuárias”, garantiu.
"Acredito que os resultados serão bons. Moro no Arruda e de ônibus levo 30 minutos para chegar ao colégio. Sem trânsito, gasto 15 minutos”
Cássio Fidelis, 17 anos, estudante
"Na teoria acho que funcionará, mas na prática não. Explorar o transporte público ainda parece ser a melhor saída para amenizar o problema”
Augusto César da Silva, 20, operador de telemarketing
"Acredito que vai ser viável. Vai melhorar a circulação de veículos. As pessoas mudariam um pouco suas rotinas, mas acho que seria bom para todo mundo”
Edson Santos, 57 anos, chaveiro
"Não acho que funcionará. As pessoas devem ser incentivadas a usar os ônibus. Se o transporte público melhorar, os carros serão usados para passeio”
Iranildo Gomes, 30 anos, músico
"Acho que o projeto só irá funcionar para os servidores públicos. Ele deveria ser expandido para várias categorias. O trânsito está caótico"
Ary Alves Amaral, 40 anos, técnico em eletrônica
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